"Agora você pode ter certeza: não volta. O beijo não dado não tem mais sentido. O abraço guardado não tem mais motivo. O palavrão engolido não quer dizer mais nada. Não volta, você cansou de ouvir, mas só agora pode ter certeza. A chuva nunca mais fez o mesmo desenho no vidro, o mar nunca mais a mesma pose para a fotografia, sua música preferida só tocou no momento certo naquele dia. O poema deixado para depois, hoje, não vale mais nada, há rimas que mofam, que perdem o significado. Consegue entender? Agora, acredita? Não era autoajuda barata, previsão de cigana mentirosa, horóscopo de jornal vagabundo, conselho de velho morrendo, carta falsa de tarô. Não volta, mesmo. E espero que na cópia desta mesma carta a ser aberta, novamente, daqui a dez anos, seja menor o arrependimento. Estão lacrados os próximos envelopes, lambidos, selados, trancados, mas eu já aviso: dentro deles, o mesmo texto. Não volta - tatue no braço, grude post-its, escreva com carvão pelas paredes, com as unhas compridas arranhando a terra: histórias de verdade não se rebobinam."
Eduardo Baszczyn