"Não julgue os outros só porque os pecados deles são diferentes dos seus."

"Depois de um tempo, você ainda vai lembrar dessa ferida que rasgou fundo o teu peito. Mas vai saber também, que foi apenas uma página do capítulo passado. E que o capítulo que você está agora. Ah, esse sim é o mais interessante."



terça-feira, 15 de setembro de 2015




"Onde a saudade localiza o sujeito na gente? No coração, na mente, no corpo ou nesse conjunto todo que pulsa revirando o baú de adeuses que, talvez, quem sabe, quisessem dizer outra coisa? Pois insiste em nós essa impregnação na lembrança, mas o sentimento ocupa muito mais que a memória.
Onde a saudade localiza o sujeito na gente se os olhares já nem se veem mais e as peles só exalam o perfume da distância? Se o tempo correu enchendo de poeira luas e mais luas deixando sonolentas e opacas as estrelas que brilhavam nas madrugadas incandescentes? Onde fica guardado o sujeito na gente?

Onde a saudade localiza na gente o sujeito inerte, mas animado, não sendo coisa ou algo, mas um ser vivinho, vivente? E um suspiro intenso estendido por dentro, o segredo que o olhar na busca incessante não ocultou? Se as fotos foram apagadas e os bilhetes queimados na fogueira dos livramentos, se até o cartão postal mudou para fechar um ciclo e inaugurar outro momento, onde se escondia esse sujeito? No peito? Na pele? Porque de tudo dele ainda, mesmo que em sonho, reacende a lembrança do beijo, abraço e do jeito. Onde a saudade localizou esse sujeito?
Se a febre que pensávamos medicada arde incessante, embora esporádica, e a noite mal dormida espreita o pesadelo: do riso, do choro, do cheiro, para qual direção foram os ventos que não o levaram por inteiro? Por que a saudade incute na gente esse desmantelo?
Onde a saudade localizou na gente este ser que parecia morto e ressuscitou tão certeiro?"

Marla de Queiroz