"Não julgue os outros só porque os pecados deles são diferentes dos seus."

"Depois de um tempo, você ainda vai lembrar dessa ferida que rasgou fundo o teu peito. Mas vai saber também, que foi apenas uma página do capítulo passado. E que o capítulo que você está agora. Ah, esse sim é o mais interessante."



quarta-feira, 27 de janeiro de 2016



"Até o incêndio mais grave não apaga tudo. Sobrará um recorte, as pontas de um papel, um resto de foto, que reconstitui a emoção primeira, a emoção fundamental da estréia de uma relação.
Não existe devastação perfeita, separação definitiva. Haverá algum escombro que representará o que foi construído um dia. Não perca tempo procurando, não perca tempo escondendo, virá à tona com o vento ou com as mãos desatentas na mudança de um guarda-roupa.
Não tem como apagar uma pessoa de sua vida - pretensão de quem pensa que manda no destino, soberba de quem jura que controla os fatos. Por mais que as chamas tenham gula, por mais que o fogo aproveite a fragilidade inflamável das palavras de madeira.
Chega um momento em que a recordação segue sozinha, involuntária e indomável,  sem o apoio da leitura, apenas deduzindo e completando as linhas queimadas.
Ninguém morre totalmente. Ninguém desaparece de um romance sem deixar marcas.
Sobreviverá uma relíquia em meio às cinzas que acordará as batidas do coração carbonizado.
Não duvide da astúcia do amor, ele recupera a identidade e o DNA do afeto com um simples fio de cabelo. Não precisa de muito. Depende de pouquíssimo: um bilhetinho, uma assinatura, o canhoto de uma passagem, um e-mail na lixeira.
O fim de uma relação queima o que está próximo dos olhos, não queima o invisível nos hábitos, o invisível dentro de nossos objetos prediletos, o invisível escondido em nossas canções favoritas.
Vestígios sempre ficam. Sempre emergem da vontade visceral de esquecer o passado.
Você pode ganhar a luta com o desejo, mas jamais vencerá a luta com a memória.
A memória era do casal, nunca exclusividade de um dos dois."



Fabricio Carpinejar