"Não julgue os outros só porque os pecados deles são diferentes dos seus."

"Depois de um tempo, você ainda vai lembrar dessa ferida que rasgou fundo o teu peito. Mas vai saber também, que foi apenas uma página do capítulo passado. E que o capítulo que você está agora. Ah, esse sim é o mais interessante."



sábado, 30 de outubro de 2010

Se as minhas mãos pudessem desfolhar

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!



Federico Garcia Lorca

As seis cordas

A guitarra
faz soluçar os sonhos.
O soluço das almas
perdidas
foge por sua boca
redonda.
E, assim como a tarântula,
tece uma grande estrela
para caçar suspiros
que bóiam no seu negro
abismo de madeira.


Federico Garcia Lorca

Amor de minhas entranhas, morte viva, 
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.



[Federico Garcia Lorca]

sexta-feira, 29 de outubro de 2010




"Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada.
Não desejo também mais nada, só te olhar, enquanto a realidade é simples, e isto apenas".
                                                                                                                       Mario de Andrade


“Engordei?Engordei um quilinho. Não deve constar na lista dos pecados mortais. Na alma, que é o que importa, estou esquelética.Leve feito uma pétala”

Martha Medeiros



"Sigo à risca. Me descuido e vou... 
Quebro a cara. Quebro o coração. Tropeço em mim.
 Me atolo nos cinco sentidos.
 Viver não é perigoso? 
Então, com sua licença!"



Guimarães Rosa

"Não tinham razões para ser felizes.
 Mas, a despeito de tudo, tinham momentos de felicidade.
 Era quando começavam a falar sobre os seus sonhos. 
 Por vezes a felicidade se faz com sonhos impossíveis."

Rubem Alves in “O amor que ascende a lua.




"Oquê você tem diante dos seus olhos
merece um sorriso?

 Então não pense duas vezes..."

Pe. Fabio de Mel

"Dá vontade de amar. De amar de um jeito certo, que a gente não tem a menor idéia de qual poderia ser, se é que existe um."

Caio F. Abreu 


Você é feliz? Não espalhe, já que tanta gente se sente agredida com isso. Mas também não se culpe, porque felicidade é bem diferente do que ser linda, rica, simpática e aquela coisa toda. Felicidade, se eu não estiver muito enganada, é ter noção da precariedade da vida, é estar consciente de que nada é fácil, é tirar algum proveito do sofrimento, é não se exigir de forma desumana e, apesar disso tudo, conseguir ter um prazer quase indecente em estar vivo.
 
Martha Medeiros

Ainda é, mesmo quando já foi.


O amor não morre de pé. O amor morre deitado para confundir os cabelos e ousar de novo. Toda separação é um laço. Todo divórcio é um vinculo.[...] 
O amor não é de onde nasceu. O amor é natural de onde morreu. 

O sofrimento é o contrário: morre onde foi parido. Morre sem trocar de cidade. 

Mesmo que seja maltratado, estiolado, reduzido a pó, o amor volta, regenera-se com facilidade. O amor tem pele de sobra nos olhos. No amor, a pele é a córnea. 
Quem ama não é capaz de morrer por um amor, é capaz de voltar a viver por um amor.
O amor perdoa o que Deus condenaria; o amor condena o que Deus perdoaria. 
O amor é imprevisível. Não tem lógica. Torna a presença imaginada ou torna a ausência real. 
O amor cria sua própria necessidade; não é uma obrigação, é uma opção. Não se é obrigado a amar, até é possível viver uma vida sem amor, mas não é possível viver o amor sem dar a vida em troca.
O amor é encostar para dormir e ficar mais acordado ainda. 

O amor ilude, contraria, engana. É instável e machuca, abre ferimentos graves e invisíveis, confunde um pássaro com fruto e prende as patas em um caule, corta as asas como se fossem gomos, esvazia a casa, arruína a fé, cria os piores fiascos, infantiliza os joelhos, devasta o certo e o errado, inventa lugares para se esconder, quebra as lentes dos óculos, expulsa amizades, prepara escândalos, esconjura atrasos. Ainda assim é melhor do que o tédio. Ninguém se agride pelo tédio, pois ele anula qualquer vontade. 

O amor é como o rio, não deixa de barulhar represado de pedras. 

Sofrer é pouco ao amor. As lágrimas nunca serão fartas como a saliva. A saliva é a lágrima da alegria. 


Fabricio Carpinejar