“Talvez seja melhor viver seu conformismo, seu medo e indecisões. Suas
rasuras e atrasos, pois não há acréscimo em viver do orgulho de não
permitir-se; das frustrações daquele caminho cujos passos, não tocaram. Não há
incerteza maior do que aquele sabor ocre que fica na pauta de um rascunho que
nunca ansiou ser esboçado. Essa amarra que desbota o desaguar bonito das coisas que vem até os
lábios e deles voltam. É
lamentável ficar preso pelas escolhas e represar amorosidades desse fluxo
findado e entregue nas próprias mãos. [...]
Perde o tempo, quando na verdade o buscar das coisas e nuances, de certa forma,
se revela mesmo é no outro e para nós.
Por que sou daquelas que vivo minhas querências
e incertezas também, mas eu arrisco e me inundo de verdades e sentimentos. E creio
que não seja fácil deixar a plateia. Nasci talhada pelo Amor, pelo desejo mútuo
de completude, mesmo eu sendo metade, impermanência. Não
aprendi a viver de marés, de estações. Aprendi
a colorir minhas coragens e deixar aquela lágrima cair quando tiver de cair, e
deixar meus sentimentos bem limpinhos, puros e despidos de qualquer vir-a-ser,
para o hoje e não um amanhã. Como
sou feita de cheganças me desfaço de armaduras quando a vida me propõe ser
franca. Por isso
concedi as cartas, abri as janelas com uma grandiosidade de quem se olha nos
olhos e confessa-se ... E eu mesmo, não perdi nada, pincelei meus arco-íris com
os tons concedidos e guardo o que de contemplativo foi e é... Sopram naquela janela colorida por
sinal, a mesma brisa, o mesmo Amantes-amados, beijando
as águas na maciez do agora em que lavo minhas mãos".
Fernanda Fraga