"Não julgue os outros só porque os pecados deles são diferentes dos seus."

"Depois de um tempo, você ainda vai lembrar dessa ferida que rasgou fundo o teu peito. Mas vai saber também, que foi apenas uma página do capítulo passado. E que o capítulo que você está agora. Ah, esse sim é o mais interessante."



domingo, 1 de junho de 2014

"A gente morre todos os dias. Mas se esquece e levanta."



"A gente morre quando acorda. Morre de tédio, de preguiça, morre de mesmice, ou não, como apregoaria Caetano Veloso, com aquela voz de fruta sumarenta e lenta degustada em algum recanto nordestino. Tem pessoas que já morreram faz tempo. E nunca desconfiaram disso. Morrem de medo de encarar o medo, de colocar a coragem debaixo de um braço e o medo apoiado no outro braço e prosseguir caminhando[...].
Morre-se de pavor de mudar cacoetes, opiniões, certezas, repetindo automaticamente velhos e ranhetos comportamentos. Morre-se de medo de encarar as verdades da alma, no espelho da consciência, cujos reflexos nem sempre soam agradáveis ou digestivos. [...]. A gente morre na repetição infindável de defeitos pra lá de conhecidos, nossos e dos outros, e anunciados instante após instante em nossa gestualidade e fala reveladora.
A gente morre de frio e de mentiras. De amor escondido e expurgado pela covardia. De afeto enrijecido e estanque. Da flor não manifesta num discurso que se pretendia doce. [...]
Muita gente morre de silêncio. Não joga para fora as fecundas cirandas do coração. Morre de ódio, de inveja. E finge que estes sentimentos, tão descivilizados e deselegantes, pertencem somente aos outros. De soberba, arrogância e interjeições também se morre. E ainda quem deixa a paixão morrer no sexo e faz amor sem prazer. Como quem come uma sobremesa de nariz entupido..
Há gente que morre de orgulho, mas não dá o braço a torcer. Criaturas que jamais conheceram a grandeza do perdão, do abraço, da palavra sem mascaramentos."

"A gente morre todos os dias. Mas se esquece e levanta."


Graça Taguti