Duas e cinquenta e dois da madrugada do dia 01 de junho, lá fora a chuva teima em cair e o nosso velho amigo continua a subir, não me atento muito a isso, minha insônia nada tem ha ver com águas barrentas inundando casas e ruas. Estou enterrada nessa lama até a alma. Meu coração, se é que ainda tenho um não passa de um velho relógio batendo as horas de uma vida que chega ao seu limite de dor. Faz cinco dias que nao saio de dentro de casa, não suporto a ideia de estar no meio de pessoas, pessoas são más. Não consigo lembrar quantos dias fazem que não me alimento de algo solido, dois ou três dias? Não tem importância, tudo que eu queria agora era ver minha tia, meu maior desejo é que ela viesse me buscar. Sinto tanto a falta dela. Minha missão está chegando ao fim e isso é meu maior orgulho, criei meu filho como um homem de caráter, justo, bondoso e forte. Consigo ver suas asas prontas para o voo. Foi isso que pedi a Deus quando ele tinha 4 anos e eu tive que retirar um câncer, Deus me concedeu isso, ver meu filho crescer e se transformar num homem honrado. Missão cumprida! Não espero e já não quero mais nada, quero só descansar, sair desse mundo de dor e sofrimento. Eu queria dormir mas são tantos os sentimentos dentro de mim que não consigo, choro, sinto raiva, ódio, magoa, desprezo e amor, pode isso tudo?
Tudo que eu queria agora era ver minha tia chegando com um dos seus vestidos, abrindo um sorriso e dizendo 'vem filha, vem Aninha vamos ficar juntas novamente. Vou te fazer vestidos novos, você precisa se alimentar minha filha, eu te entendo'. Eu só queria dormir....
